Números 22.21-35
- Estamos diante de um texto engraçado e ao mesmo tempo bem aplicativo a todos nós. É o relato sobre um profeta de nome Balaão que se deparou com um interlocutor nada convencional: uma mula. Na realidade, ele foi confrontado por Deus por ele ter se mostrado arredio à visão de Deus para a sua vida.
- Balaque, rei dos moabitas havia contratado Balaão para amaldiçoar o povo de Deus, Israel que vagueava no deserto. Na realidade, Balaque temia muito aquele povo: (vv. 5,6)
- Balaão recebe de Deus um categórico “não” pela primeira vez que foi consultado: (v. 12)
- Só tem que, a oferta financeira foi aumentada... em muito... Balaão de inicio foi bastante fiel... mas, balançado resolveu pedir pela segunda vez: (v. 20)
- Na cabeça de Balaão uma esperança: “Deus pode ter mudado de idéia...”... não consigo ver no texto algo diferente: o que estimulava o pretensioso Balaão era a fortuna que estava em jogo... (ele fez como jogador de futebol que dificilmente honra a sua palavra quando recebe uma polpuda proposta financeira no exterior).
- Daí começou a jornada de Balaão para fazer cumprir o seu contrato: “amaldiçoar a Israel”.Mas, Deus havia dado uma ordem: “faça apenas aquilo que eu lhe mandar”. Deus esperava que o religioso Balaão ficasse atento aos Seus sinais durante o caminho... mas, já estava crescendo dentro de Balaão algo que desagradara profundamente o Senhor.
- Balaão é semelhante a muita gente hoje: gente religiosa, que conhece a Deus formalmente, mas se perde por questões de desobediência a “visão de Deus”. Que visão? A dependência única e exclusiva do Senhor. Deus não quer ser para você um resolvedor de problemas, ele quer ser o seu dono, ter controle sobre toda a sua vida!
- Quando se perde assim a visão de Deus deve se fazer a oração de George Matheson em sua poesia: “torna-me um cativo, Senhor”: “minha vontade não é minha própria, até que a tornes Tua...”
- Eu pergunto: o que tem impedido você de ter bem clara no peito a visão de Deus para a sua vida. É certo que você tem procurado religiosamente estar com Deus... agora, você tem permitido se anular em seus próprios méritos para viver em Deus?
FT. Para ser sensível à visão de Deus na sua vida, você precisa:
01. Perguntar a si mesmo, se a sua vida é dirigida pela vontade divina:
- Esse é um tema interessante da “teologia sistemática”. Como não podemos compreender (só palidamente) a vontade de Deus para as nossas vidas, percebemos essa distinção: a vontade revelada são os seus mandamentos ou “preceitos” para a nossa vida moral (aquilo que devemos fazer, ou o que Deus manda que façamos).Como vontade secreta entendemos os seus decretos ocultos, pelos quais ele rege o universo e determina tudo o que irá acontecer.
- Só fazendo essa distinção podemos entender a intenção de Deus em dar autorizar a ida de Balaão e depois a sua repreensão quando o profeta estava à caminho. Como vontade revelada havia a ordem de Deus para Balaão fazer aquilo que estava na mente divina. Como vontade secreta havia a determinação de que, Balaão passasse por um verdadeiro“teste de fogo”. Estava na hora da “máscara religiosa de Balaão cair”.
- Na cabeça de Balaão uma esperança: “Deus pode ter mudado de idéia...”... não consigo ver no texto algo diferente: o que estimulava o pretensioso Balaão era a fortuna que estava em jogo... (ele fez como jogador de futebol que dificilmente honra a sua palavra quando recebe uma polpuda proposta financeira no exterior).
- Eugene H. Merril vai sugerir que “dessa vez, o Senhor outorgou a Balaão a permissão de ir a Moabe, não a fim de amaldiçoar a Israel, mas para que o Senhor pudesse mostrar-se gloriosamente através de Balaão”.
- Tenho para mim que Deus havia ordenado o profeta a ir... mas, como ele examina as motivações do coração... Ele percebeu que a cobiça estava a ocupar o coração de Balaão, daí Deus interveio...
- A carta de Pedro referindo-se aos “seguidores de Balaão” na igreja do primeiro século:
“Eles abandonaram o caminho reto e se desviaram, seguindo o caminho de Balaão, filho de Beor{6}, que amou o salário da injustiça, mas em sua transgressão foi repreendido por uma jumenta, um animal mudo, que falou com voz humana e refreou a insensatez do profeta.” (II Pedro 2.15, 16)
- Na realidade, por não distinguir a vontade de Deus para a sua vida, Balaão se viu no seguinte “nó”: ele estava caminhando pelo caminho da desobediência, porque Deus não havia dito “sim, vá”... mas, sim “já que insistes, vá...”. Estranho falar isso, mas Deus por vez nos coloca em situações que eu poderia sintetizar como “por nossa própria conta e risco”.
a) É muito triste ver pessoas manipulando a vontade de Deus.
- Balaão estava encantado com tudo... ele até se levanta bem cedo, prepara-se para a viagem, estava bem acompanhado (príncipes de Moabe), mas estava desacompanhado do seu principal parceiro, o Deus todo Poderoso! (vv. 21,22)
- Deus ficou irado quando percebeu no coração de Balaão uma motivação errada para a sua obediência. Aquele homem estava tentando manipular a Deus com os seus rituais, suas orações, suas liturgias. É o mesmo que acontece quando as pessoas tentam usar de sua adoração a Deus para depois tirar proveito próprio!
- Tenho aqui uma citação bombástica de J. C. Ryle: “Talvez você tenha pensado que se a religião de um homem está exteriormente correta, ele deve ser um dos quais Deus se agrada. Você está completamente enganado. Você está rejeitando o teor inteiro do ensino bíblico. Retidão externa sem um coração reto, não é nada mais nada menos que farisaísmo. As coisas externas do cristianismo - batismo, Ceia do Senhor, caridade, ser membro da igreja e coisas semelhantes - nunca levam a alma de qualquer homem ao céu, a menos que seu coração seja reto. O cristianismo deve existir tanto interna, quanto externamente, e é o interior que Deus fixa seu olhar.’
b) Deus sempre se faz ser entendido, de um jeito ou de outro. (vv. 23-27)
- O engraçado é que aquele sábio profeta é admoestado por um animal, que a sua própria raiz genealógica já o descredibiliza: não se pode esquecer que jumenta é a fêmea do burro!!!
- O curioso é que justamente, uma mula, animal reconhecido por sua teimosia e passividade demonstra ter mais percepção espiritual do que o super profeta da Mesopotâmia, a quem Balaque, rei de Moabe, patrocina com valores astronômicos!!!
- A jumenta é sensível à visão do anjo do Senhor (o próprio Deus) o sábio profeta não... ao homem a ignorância, ao animal a prudência... na fala da jumenta um desabafo: “por que tanta insanidade?”. Na resposta de Balaão (isso mesmo ele se animaliza) eco de um desespero subumano por ter transgredido o principio da “sensibilidade profética”.
- “Se Deus simplesmente quisesse tornar sua existência conhecida a todas as pessoas da terra, não se esconderia. Contudo, a presença direta de Deus inevitavelmente acabaria com a nossa liberdade, substituindo a fé pela visão. Deus deseja, pelo contrário, um tipo diferente de conhecimento, um conhecimento pessoal que exige compromisso daquele que busca conhecê-lo”. (Phillip Yansey)
Ilust. - C. S. Lewis diz que não podia dar conselhos sobre a busca de Deus, porque nunca passou por essa experiência: “Pelo contrário, era como se ele fosse o caçador, e eu, a caça (...) mas, não é à toa que este encontro há muito adiado aconteceu exatamente no momento em que me esforcei para obedecer à minha consciência”.
FT. Para ser sensível à visão de Deus na sua vida, você precisa:
02. Varrer do seu coração todo espírito de cobiça materialista:
- Balaão me parece um cara em conflito... ele sabe que precisa ouvir a voz de Deus e atender ao seu comando... mas, também ele tem o sonho de quem sabe, resolver todas as suas pendências financeiras sendo apenas um bom “profissional da religião”. (artigo “Como o Ministério Materialista Prejudica o Rebanho de Deus” por Dr. Joel. R. Beeke):
“O materialismo é perigoso porque ele é a prática da cobiça. A cobiça rege o nosso íntimo. Ela é como uma inundação que rompe os muros do nosso coração e transborda para fora de nossas vidas, naufragando em destruição. A cobiça faz com que a felicidade consista em coisas e não em pensamentos. Não deixe que dinheiro, posses e desejos carnais tornem-se mais importantes para você do que o ser útil para Deus e o Seu povo. Cada desejo irá esvaziá-lo e diminuí-lo. Ela irá azedar seu gosto pelo ministério.”
a) Uma expressão bem nítida da cobiça do homem é a auto-suficiência: (vv. 28-30)
- Quando se distancia de Deus o homem passa a viver como um irracional. Isso porque ele passa a ser escravo de suas sensações. É sabido que o homem sem Deus é alguém guiado por uma moral sem absolutos e uma ética completamente distorcida.
- Rave Zacarias vai citar Nietszche em seu “Zaratustra” para embasar sua tese de que o homem quando desbanca Deus do seu coração está à um passo da irracionalidade: “Caminhastes do verme para o homem, e dentro de vós muito ainda é verme. Outrora éreis macacos, e ainda agora o homem é mais macaco do que qualquer macaco...”
- Explicando: para Nietszche, o homem está numa encruzilhada entre ser um animal e um “super homem”, e a maioridade desse homem acontecerá quando se destruir o maior obstáculo que é o cristianismo. Isso porque para ele, a religião é uma farsa engendrada pelo medo do além: com isso, não existe inferno... mas também não existe o céu!!!
b) Deus sempre vem para confrontar o cobiçoso com a sua espada da disciplina. (v. 31)
- Deus usa uma espada... para salientar que a desobediência a Deus tem como resultado, a morte!!! Balaão não poderia fugir do juízo de Deus sobre a sua vida. E ele chega de uma maneira vergonhosa, ele é admoestado pelo seu animal de carga.
- Balão se desliga tão facilmente... que ele não percebe que era bastante comum ao profeta-adivinho naquele momento histórico prestar redobrada atenção ao que acontecia com os animais de transporte. “Como especialista nessa espécie de adivinhação, ele devia ter percebido que a divindade tinha uma mensagem para ele”. (Gordon J. Wenhan)
c) Uma marca de nosso tempo é a pretensão de muitos em “seguir seus próprios caminhos’: (vv. 32,33)
- Não adianta: Deus irá de dar vários sinais quando o seu “caminho de vida” não estiver de acordo com o sonho dEle para a sua vida. Cabe a você ficar atento... e ao invés de se martirizar pelo erro, seja obediente... pura e simplesmente, retome sua vida, mudando o caminho dentro de você, mesmo que você trilhe a mesma estrada. (vv. 34,35)
- O infeliz Balaão vivia uma espiritualidade esquizofrênica, ao passo em que ele demonstrava dependência divina, nos bastidores, “debaixo dos panos”, ele deu uma dica para derrotar os hebreus (a quem Deus mandou abençoar) conforme Números 31.16. Ele era um homem interesseiro e mal... bem pior do que a sua mula!!!
- Balaão estava a trilhar um caminho “precipitado, louvo, rebelde, teimoso”. O fato é que Balaão, a despeito de suas boas intenções de nada fazer contra a vontade de Deus (apesar da grana envolvida na transação) havia caído no pecado da cobiça e da estupidez, e o seu caminho de vida optado foi o de favorecer a Balaque (o “valerioduto” da época).
- Alguns estudiosos supõem que Balaão, tendo visto o sucesso de seu programa de corrupção (Números 25), voltou a Balaque a fim de cobrar pelos seus serviços, e nessa conjuntura ele foi apanhado de surpresa na companhia dos midianitas, e acabou morto juntamente com os cinco reis vassalos (Números 31.8).
- “De um lado, bênçãos proferidas em nome de Deus. Do outro lado, conselhos de indução ao pecado. Logo, proferir palavras divinas, palavras bíblicas, não é sinal de espiritualidade. Ter trejeitos de profeta não implica em compromisso automático com Deus. Sabemos pelo texto bíblico, por exemplo, que o próprio diabo estava a citar os salmos por ocasião da tentação a Cristo no deserto. Boas palavras podem ter bons resultados, independente de quem as evidencie. Há muitos que já se apresentaram como porta-vozes de Deus, sem terem vida exemplar. De um lado são santos, do outro lado, profanos.” (Darlyson Feitosa)
Ilust. John Newton transportou muitas cargas de escravos africanos trazidos à América no século 18. No mar, em uma de suas viagens, o navio enfrentou uma enorme tempestade e afundou. Newton ofereceu sua vida à Cristo, achando que iria morrer. Após ter sobrevivido, ele se converteu e começou a estudar para ser pastor. Nos últimos 43 anos de sua vida ele pregou o evangelho em Olney e em Londres. Em 82, Newton disse: "Minha memória já quase se foi, mas eu recordo duas coisas: que eu sou um grande pecador, e que Cristo é meu grande salvador!"No túmulo de Newton, lê-se: "John Newton, uma vez um infiel e um libertino, um mercador de escravos na África, foi, pela misericórdia de nosso senhor e salvador Jesus Cristo, perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que ele tinha se esforçado muito por destruir."O seu mais famoso testemunho continua vivo, no mais famoso das centenas de hinos que escreveu: Amazing Grace! Ó Graça surpreendente...
Como é doce o som que salvou um desaventurado como eu.Eu estava perdido, mas agora me achei.Fui cego, mas agora vejo.
Sua Graça ensinou meu coração temer.E aliviou os meus medos.Quão preciosa foi a revelaçãono primeiro momento em que eu acreditei.Através de muitos perigos, labutas e armadilhas eu já passei,esta Graça trouxe-me até aqui.E a Graça conduzir-me-á ao meu lar.
Ezequias Amancio Marins
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