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Vai ter com a formiga, ó internauta preguiçoso!

Quando criei há 9 meses o APENAS segui passo a passo o tutorial do WordPress, que em certo momento diz que “os textos do blog devem ser curtos, porque as pessoas não têm paciência de ler textos longos”. Minha visão pessoal é que uma reflexão tem que percorrer todas as etapas do pensamento para que a conclusão e os argumentos que forem usados façam sentido na mente de quem lê: começo, meio e fim  Que façam o leitor pensar. Refletir. E, se for o caso, mudar de rumo. E, me perdoem, sou incompetente para fazer isso em três ou quatro parágrafos. Por isso, resolvi ignorar a dica e escrever textos do tamanho que julgasse necessário. Já recebi nos comentários umas duas ou três reclamações: “Seus textos são muito longos”. Cheguei a cogitar escrever telegramas em vez de reflexões, mas depois pensei bem e optei por manter o que meu cérebro ordena aos meus dedos que digitem em vez de seguir a voz do povo – que, aliás, nunca foi a voz de Deus. A quem não tiver paciência, infelizmente só posso sugerir que sinta-se completamente a vontade para não ler. Quem quiser investir uns minutinhos a mais em leitura, oro a Deus que faça bom proveito do que aqui escrevo.

Mas por que estou falando sobre esse assunto? É que essa questão me fez refletir sobre o hábito de leitura do cristão brasileiro e a influência que o seu twitter, o seu Facebook e outras mídias de Internet estão tendo sobre o teu cérebro.

Tenho 40 anos. Fui educado a aprender as coisas por meio das três tecnologias que havia na minha infância: livros, livros e livros. Comunicação à longa distância era por meio das deliciosas cartinhas, com páginas e páginas que escreviamos para nossos amigos distantes ou pen friends. Não havia e-mails, MSN, Skype, nada disso. E era uma delícia escrever cartas e, mais ainda, receber. Quem nasceu dos anos 90 pra cá não sabe o prazer de rasgar a bordinha do envelope contra a luz, o gostinho de conhecer a letra do remetente, a alegria de ver que tipo de papel a pessoa escolheu. Dependendo da pessoa, eram quatro ou cinco páginas. Atualmente, pelo correio só chegam contas, revistas e propaganda. Que saudades das cartinhas…

Fato é que a minha geração não tinha dificuldades para ler livros longos. Li na biblioteca da escola todos os livros de Sir Arthur Conan Doyle, Agatha Christie, muitos de Jorge Amado, Edgar Allan Poe, Homero, Drummond, Paulo Mendes Campos, Fernando Pessoa e muitos autores que ajudaram a formar quem Mauricio Zágari é hoje. Cada livro era uma emoção nova: viajei ao galante Rio de Janeiro do passado com Machado de Assis, passeei com José de Alencar pelas florestas, chorei nas ruas de Budapeste com “Os Meninos da Rua Paulo”, tive minha sensibilidade profundamente abalada com Gabriel Garcia Marquez – por quem me apaixonei e li tanto que hoje me sinto íntimo e chamo pelo apelido, Gabito. Meu amigo Gabito, que tantas vezes me fez rir, sorrir, chorar, me emocionar, sonhar… tudo usando apenas tinta sobre papel. E se você conhece as grandes obras do Gabito, como “Cem anos de solidão” e “O amor nos tempos do cólera”, sabe que não são livros nada, nada, nada curtos.

Aí chegou a Internet. Amei quando conheci. Na época eu trabalhava no O Globo e me ajudou demais a fazer muitas reportagens que sem essa ferramenta eu nunca conseguiria. Não demonizo a web, que fique claro. Acredito que foi um avanço. Conheci a mulher da minha vida pela internet; nela fui apresentado a gente muito interessante. Então nutro pela web um enorme apreço. Só que, com ela, vieram os efeitos colaterais. Talvez o mais grave de todos tenha sido o surgimento de uma geração que não foi treinada a ler textos longos.

Twitter: 140 caracteres. Orkut e Facebook: pequenos scraps. Blogs: 3 ou 4 parágrafos. Ou seja: os formatos de texto da internet estão nos deseducando a ler textos longos. Nos tornando mentalmente preguiçosos. E textos longos nao são longos porque o escritor é um tagarela ocioso que não tem o que fazer e por isso escreve muito. Eles são longos porque há algo a ser dito e supõe-se que cada parágrafo tenha sua função e seu valor.

Temo pelas futuras gerações, em especial de cristãos. Eu entendo que muitos acessam a web no trabalho e por isso não tenham muito tempo livre. Mas no meu entendimento, uma reflexão sobre a fé não tem nenhuma razão de ser se de fato o leitor não for tocado pelo que lê e possa, assim, ser conduzido a um crescimento, à edificação, ao arrependimento ou, no mínimo, a uma reflexão. Nem que para isso tenha de imprimir aquele texto para ler no ônibus, em casa ou onde for.

Quem está acostumado a apenas 140 caracteres lerá os 28 capítulos do evangelho segundo Mateus? Ou os 42 de Jó? Os 50 capítulos de Gênesis então! Que sacrifício será. Vai dar sono. A desatenção virá num piscar de olhos – sonolentos. Mais fácil é esperar alguém tuitar um ou outro versiculozinho, vai que assim Deus fala? De preferência “Jesus chorou”, que é bem curtinho.

Amado, amada, use a internet. Use as mídias sociais. Mas, pelo amor do Nosso Senhor, não abra nunca mão de ler bons livros. Ler textos longos evita a atrofia e a preguiça mental do teu cérebro e, por conseguinte, o emburrecimenro da Igreja.

Eu temo por uma Igreja que não tenha paciência de pegar um J.T.Wright, um Alister McGrath, um Dallas Willard, uma Teologia Sistematica de 1.200 páginas… por ter preguiça de ler. Que prefira formar sua bagagem de conhecimentos por twits de pastores-poetas que escrevem bonitinho ou de pastores-celebridades que têm mais de 80 mil followers mas só falam abobrinha atrás de abobrinha nas mídias sociais. E a consequência disso está escrachada nos tuites e scraps de quem segue essa gente, que acaba passando horas escrevendo coisas absolutamente irrelevantes e, honestamente, inúteis – claro que não estou falando de você, querido leitor, porque, afinal, você gosta de ler textos que tenham o tamanho que precisem ter e só usa as mídias sociais para tratar de assuntos maduros e relevantes, não é?

Na porta da biblioteca de minha antiga escola havia um cartaz com uma frase que uns atribuem a Malba Tahan e outros a Monteiro Lobato. Na verdade, o autor aqui não importa, é a verdade contida na reflexão que chama a atenção: Quem não lê mal fala, mal ouve, mal vê. É isso aí. Que nossa Igreja (e você que me lê é parte dela) não perca sua capacidade bereana, apologética, crítica e devocional  por não gostar de ler textos longos. Isso significa, acima de tudo: LIVROS!!! Por preguiça mental. Por flacidez cerebral.

Não importa o tamanho do texto. Não importa o tamanho do livro. Se de algum modo edifica sua vida, leia. E, assim, além de fortalecer seu cérebro pelo uso e pela aquisição de conhecimento, vc pode ler reflexões que vão mudar sua vida – pois livros mudam vidas. Coisa que dificilmente 3 ou 4 parágrafos fazem.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Maurício Zágari
http://apenas1.wordpress.com
Blog: "Apenas" 

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